Estatutário ganha, em média, R$ 7.335 e celetista, R$ 3.023 na capital.
Centro-Oeste é a região onde a desigualdade entre servidor e trabalhador privado é maior
Os servidores públicos ganham, em média, salário 80,9% maior do que os
trabalhadores da iniciativa privada. No Distrito Federal, porém, a
desigualdade é ainda maior. Os estatutários têm renda média de R$ 7.335 e
os celetistas, de R$ 3.023,03 — diferença de 142,6%. Os dados fazem
parte de um levantamento da Confederação Nacional do Comércio (CNC),
feito a pedido do Correio.
A pesquisa aponta, ainda, que o Centro-Oeste é a região com maior
diferença salarial entre servidores e trabalhadores da iniciativa
privada. Em Goiás, os estatutários ganham, em média, o dobro dos
celetistas; em Mato Grosso, a diferença é de 140,7%; e, em Mato Grosso
do Sul, de 140,6% (veja arte). A região com menor disparidade é o
Sudeste. Em Minas Gerais, a diferença é de 103,2%; no Espírito Santo, de
85,9%; e no, Rio de Janeiro, de 79,5%.
São
Paulo é o estado com o menor nível de desigualdade, mas os trabalhadores
da administração pública têm contracheque médio 55% maior do que o dos
servidores públicos. O economista-chefe da CNC, Fabio Bentes, explica
que essas disparidades são maiores nos estados em que há maior
dependência da administração pública na massa de salários ou com menor
nível de industrialização. No caso do Centro-Oeste, além dessa
realidade, há presença forte dos salários do campo, menores dos que os
pagos em regiões urbanas, por isso, a diferença é maior.
Bentes
destaca que, entre 2006 e 2016, a participação dos servidores no número
total de trabalhadores diminuiu de 21,2% para 18,7%. Entretanto, o
nível de renda desse grupo subiu significativamente, diante dos
reajustes salariais superiores aos concedidos a trabalhadores da
iniciativa privada. “Para piorar, temos um nível de produtividade baixo
tanto no setor privado quanto no setor público. Temos um contingente
significativo da mão de obra empregada em atividades de baixo valor
agregado, com baixa qualificação. Inegavelmente, o Brasil e um país de
baixa produtividade”, ressalta.
Para o
economista Carlos Alberto Ramos, professor da Universidade de Brasília
(UnB), alguns fatores explicam tamanha disparidade. O primeiro é a
inexistência de concorrência no setor público e a garantia de
estabilidade. Com salários iniciais atrativos e categorias organizadas,
com forte poder de pressão, os reajustes são custeados pela sociedade.
No setor privado, aumento de remuneração representa elevação de custos.
“Os reajustes no setor público não têm relação com produtividade. E a
estabilidade, que, por um lado impede que os cargos sejam preenchidos
por apadrinhados políticos, traz o problema da acomodação. Se vou ganhar
o mesmo para trabalhar muito ou pouco, trabalho pouco”, diz.
Na
avaliação do administrador Ricardo Rocha, professor de Finanças da
escola de negócios Insper, a crise econômica agravou ainda mais as
disparidades. Para sobreviver, vários empresários substituíram os
empregados com maiores salários por trabalhadores com o mesmo perfil e
remuneração inferior. Segundo ele, os reajustes salariais concedidos
entre 2006 e 2016 não tiveram como base qualquer aumento de
produtividade, mas foram ignorados pela população diante do crescimento
econômico do país. “Não significa que o salário é injusto. Mas não há
qualquer avaliação técnica que aponte a qualidade do trabalho realizado.
A percepção que impera é que temos uma estrutura de Estado que é
ineficiente”, ressalta.
O motorista de ônibus
José Augusto Monteiro, 42 anos, trabalha há 17 na profissão e reclama
que os reajustes salariais que recebeu ao longo dos anos não cobriram as
perdas inflacionárias. Segundo ele, a remuneração mensal de R$ 2.456 é
menor do que a recebida por quem trabalha no serviço público para
desempenhar a mesma função. “Gosto do que eu faço, mas muita gente, sem a
mesma qualificação que eu tenho, ganha mais para ser motorista na
Esplanada dos Ministérios”, diz.
Casado e pai
de um filho, ele ressalta que se esforçará para que a criança de oito
anos tenha mais oportunidades. Para ele, o ideal seria que ele estudasse
e no futuro fizesse um concurso público para ter uma renda melhor. “O
servidor tem estabilidade e bom salário. Quero que meu filho tenha uma
vida melhor que a minha”, afirma.
Correio Braziliense
https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/economia/2018/08/05/internas_economia,699291/diferenca-salarial-entre-servidores-e-celetistas-e-de-142-no-df.shtml
Nenhum comentário:
Postar um comentário