'Roda Viva' perde a chance de mostrar aos eleitores as propostas dos candidatos
COMENTÁRIO QUE NÃO QUER CALAR: a ilustre articulista quando escreve sobre tecnologia é perfeita - talvez os objetos tecnológicos e a própria tecnologia não influam em sua imparcialidade, já que não despertam ódio;
falando sobre seres humanos - no caso, Bolsonaro, o ódio é tão intenso que não consegue sequer disfarçar.
Na
segunda-feira de manhã, bem antes do “Roda Viva” ir ao ar, meu amigo Fernando Cañadas
fez uma breve visita ao futuro e trouxe informações sobre o resultado da
entrevista com Bolsonaro: “Seus eleitores vão dizer que ele ‘mitou’, seus
opositores vão dizer que foi ‘humilhado’ e os isentões vão dizer que foi mais
ou menos”.
A
previsão é mais ampla do que o Fernando imagina. Este promete ser o resultado
de todas as entrevistas do candidato, pelo menos enquanto os jornalistas o
confrontarem como um boçal truculento que precisa ser desmascarado. Bolsonaro
não tem a quantidade de eleitores que tem porque eles não sabem que o seu
candidato é um troglodita que sente saudades da ditadura; pelo contrário. Eles
sabem — e é justamente isso que os atrai.
Assim como os eleitores de Trump,
eles querem alguém que não tenha medo de ferir as suscetibilidades
contemporâneas, um homem que pouco está se lixando para o politicamente correto
e que promete por ordem na casa. Esses
eleitores perdoam-lhe qualquer coisa porque, para eles, a mídia é um ninho de
militantes de esquerda que antagoniza o seu herói. Cada vez que um jornalista
tenta arrancar de Bolsonaro alguma declaração absurda a favor da ditadura ou
contra os movimentos sociais reforça essa percepção; cada vez que repisa uma
barbaridade antiga, ele cresce, porque já respondeu incontáveis vezes sobre
episódios que ninguém desconhece, e já encontrou a fórmula certa para agradar
na sua bolha.
Enquanto
isso, perde-se a oportunidade de mostrar para os eleitores indecisos, que são
os que realmente importam, quem Bolsonaro é para além do óbvio — o seu absoluto
despreparo, a sua falta de qualquer projeto de nação, a sua irrelevância como
parlamentar, a sua incapacidade de fazer alianças e de dialogar. O passado do
candidato esses eleitores indecisos já conhecem; é preciso mostrar a eles como
lhe faltam ideias em relação ao futuro. Não à toa, as suas respostas mais
reveladoras no programa foram dadas às perguntas que menos tinham a ver com as
suas inclinações pessoais — mortalidade infantil, desemprego no campo,
economia.
Bolsonaro
não é uma curiosidade midiática, uma celebridade bizarra. É candidato à
presidência com um número alarmante de eleitores. Está devendo muitas respostas
em relação ao seu trabalho, aos seus planos e ideias. Como planeja governar o
país, se nem um vice consegue para a sua chapa? Com quem vai governar? Como
explica ter passado 30 anos vivendo às custas do dinheiro público sem nada ter
realizado de relevante? Por que nunca apresentou um bom projeto para a
segurança pública, já que supostamente é especialista no assunto? De onde
pretende tirar recursos para a educação e para a saúde? O que entende por
cultura?
Infelizmente,
o “Roda Viva” está perdendo chance após chance de mostrar para os eleitores
quais são as propostas dos candidatos. Salvo raras exceções, os jornalistas das
suas diversas bancadas parecem mais empenhados em marcar pontos com os seus
seguidores nas redes sociais do que em buscar respostas reais a problemas
atuais. A essa altura, o eleitor já conhece o compasso moral dos candidatos; o
que ele precisa saber agora é como eles pretendem descascar o abacaxi.
O Globo
https://oglobo.globo.com/cultura/bolsonaro-deve-respostas-mas-preciso-fazer-as-perguntas-22940116
Nenhum comentário:
Postar um comentário