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quarta-feira, 25 de julho de 2018

Superintendência do Rio tem o maior número de armas desviadas da Polícia Federal no país



Foram 80 armas e 483 projéteis extraviados nos últimos 11 anos na sede fluminense


Um levantamento da direção-geral da Polícia Federal revela que nos últimos 11 anos cerca de 20% de todas as armas que desapareceram dos estoques da PF no país saíram da Superintendência do Rio. A instituição informou que foram extraviadas 404 armas em todo território nacional, sendo 80 delas da sede fluminense: uma média de sete armas por ano que foram alimentar o crime organizado. O rastreamento, assinado pelo delegado Fabrício Schommer Kerber, diretor de Administração e Logística (Dlog) da PF, mostra ainda que, no mesmo período, 483 projéteis de vários calibres — incluindo de fuzis, submetralhadoras e pistolas — desapareceram dos estoques da Polícia Federal do Rio.

A PF de São Paulo, que aparece em segundo lugar no ranking, teve 38 armas (e 948 munições) desviadas no mesmo período. Em terceiro lugar, aparece a PF do Distrito Federal com 31 armas. Depois vieram o Pará, com 30, o Rio Grande do Sul, com 28, e a Superintendência do Ceará, com 23, apontada como a recordista no número de munição desviada: em dez anos, 1.337 projéteis sumiram da sede, sendo 917 deles apenas em 2015.

No Rio, foram abertos 66 procedimentos administrativos pela Polícia Federal para investigar, identificar e eventualmente punir os responsáveis pelos extravios. Em todo o país, são 388 investigações internas.

O levantamento, ao qual O GLOBO teve acesso, atendeu a um pedido feito pelo gabinete do deputado federal Alessandro Molon (PSB), membro da Comissão Externa da Câmara dos Deputados que acompanha as investigações da Divisão de Homicídios (DH) para identificar e prender os responsáveis pelo assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL) e seu motorista, Anderson Franco, ocorrido no Rio, no dia 14 de março deste ano.
— Os dados revelam um quadro gravíssimo de desvios de armas bem debaixo do nariz das forças policiais no Rio. Esta falta de controle expõe uma enorme vulnerabilidade que é explorada pelo crime organizado, o mesmo que, ano após ano, faz a população do Rio se sentir cada vez mais refém. É preciso um controle firme, com inteligência, que feche esta torneira de desvios e ajude a restaurar a segurança para os cidadãos — afirmou Molon.

Segundo da Divisão de Homicídios (DH), a munição de calibre 9mm utilizada pelos criminosos que mataram a parlamentar do PSOL e seu motorista saiu de um lote vendido pela Companhia Brasileira de Cartuchos (CBC) para a PF em 2006. Peritos criminais da Polícia Civil e da Polícia Federal que examinaram os projéteis e cartuchos encontrados no local do crime, descobriram que a munição é original, não foi recarregada. Isso porque a espoleta, que provoca o disparo da bala, é original de fábrica. 

Em nota, a PF garantiu que “apura todos os casos de extravio de armas que estejam sob a cautela de seus policiais”. Informou ainda que “as eventuais punições podem ocorrer caso, no evento, seja configurada a culpa ou o dolo do servidor policial, sempre, após procedimento disciplinar formal, garantida a ampla defesa e o contraditório”.

Ainda segundo a PF, “o Rio de Janeiro conta com um dos maiores efetivos de policiais federais do Brasil, tendo recebido também o apoio de milhares de policiais de outros estados para atuar nos Grandes Eventos que ocorreram nos últimos anos no estado, quando também existiram alguns casos de extravio de armas desses policiais e que findaram sendo apurados pela Superintendência da PF no Rio de Janeiro em razão do local da ocorrência”.

O coronel reformado da PM de São Paulo, José Vicente da Silva Filho, consultor e professor do Centro de Altos Estudos de Segurança da corporação, lembrou que o desvio para o crime de armas compradas legalmente pelas forças de segurança são os piores.
— Todo mundo se preocupa com a entrada de armas pela fronteira. E deve mesmo ter atenção para isso. Mas a questão dos desvios de armamento das forças de segurança para o crime deveria ser encarado como prioridade. O cuidado com as armas legais, das forças de segurança e de defesa, é crítico no país. Não temos segurança em nossos estoques — afirmou o coronel.

José Vicente observa que o maior gargalo no extravio destas armas está nas empresas de segurança. — A federação das empresas de segurança informou outro dia que cerca de 600 mil armas foram compradas por elas em 15 anos. Quando você pergunta à Polícia Federal (institucionalmente responsável pela fiscalização das empresas) quantas armas estão em poder das empresas, ela informa que são 300 mil. E eu pergunto: onde foram parar as outras? É o pior vazamento de todos e fica tudo bem? Todos anos as empresas pedem autorização para comprar mais armas. Não há castigo. Deveria ter uma carência. A empresa que teve arma extraviada deveria ficar alguns anos sem autorização para comprar mais — sugeriu o coronel.

Em 2015, um relatório do então diretor-geral da PF, Leandro Daiello Coimbra, enviado ao deputado estadual Carlos Minc (PSB), que presidia a CPI das Armas na Assembleia Legislativa, mostrou que 17,6 mil armas, cerca de dez mil projéteis e 417 coletes balísticos (à prova de balas) haviam sido desviados, para o crime, de empresas de segurança sediadas no Estado do Rio. A CPI revelou ainda que um total de 1.700 armas (de vários modelos e calibres) saíram dos estoques das polícias Civil e Militar fluminense para às mãos de criminosos no mesmo período.

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