[desespero faz Lula criar o 'dia do
volto' e Ciro adotar como principal ponto do seu programa de governo:
soltar o presidiário Lula.]
Análise: Ciro radicaliza ainda mais para
conquistar eleitores de Lula
Promessa de soltura do ex-presidente é parte de estratégia para agradar a esquerda
Depois
de perder aliados à direita com a migração dos partidos do centrão para o tucano Geraldo Alckmin, Ciro Gomes
virou à esquerda — como visto no discurso
da convenção que chancelou sua candidatura, no último dia 20. No gesto mais
recente, fala diretamente para o público lulista. Promete cuidar da soltura do ex-presidente Luiz Inácio Lula
da Silva se eleito for. Esse público-eleitor é o que, nas pesquisas de
intenção de voto, dá a Lula 30% . Quando o petista está fora do cenário
pesquisado, boa parte desse contingente migra para os brancos e nulos ainda à
espera de um nome. Ciro quer ocupar esse espaço, e ontem declarou: — O Lula tem alguma chance de sair da cadeia?
Nenhuma.
Só tem chance de sair da cadeia se a gente assumir o poder e organizar a carga.
Botar juiz para voltar para a caixinha dele, botar o Ministério Público para
voltar para a caixinha dele e restaurar a autoridade do poder político.
Os
pendores de Ciro à esquerda parecem já ter recebido uma atenção especial da sua
área de marketing político. Produzido pelo PDT e divulgado na convenção que o oficializou como
candidato do partido ao posto de presidente da República, o material que lista os "12 passos para mudar
o Brasil" não
conta os detalhes da trajetória partidária de Ciro. "Que
Ciro é esse?" indaga uma parte do texto que trata da biografia do
candidato. Lá está relatado que ele foi deputado estadual no Ceará com
apenas 24 anos. Prefeito de Fortaleza aos 31. Governador em 1990. Ministro da
Fazenda que ajudou a consolidar o Plano Real em 1994. Ministro de Lula em
2003.
O que não
aparece: Ciro
começou no PDS que apoiava o regime militar. O pai dele era do partido e o próprio político
afirma que não poderia ir contra na época. Eleito
migrou para o então MDB. De lá foi ao PSDB, onde se tornou governador e
depois ministro no governo Itamar Franco. Depois foi ao
PPS e hoje se encontra no PDT. Mas além
da promessa aos adeptos do slogan "Lula Livre" que impulsiona
os atos do PT, Ciro manda novo recado ao Judiciário e ao Ministério Público.
Na era Lava-Jato, o protagonismo deles só agradou ao mundo político quando o
alvo da prisão era o adversário, quando era o aliado, a ordem judicial virava
abuso e motivo de protesto. Com muitos partidos com integrantes na lista dos
investigados, processados e denunciados e até presos,
Ciro arrisca o discurso de pôr o país no trilho institucional, mesmo com a
aprovação popular generalizada da turma de Curitiba.
Lula só tem chance de sair da prisão 'se a gente assumir o poder', diz Ciro
Pedetista afirmou que é preciso fazer com que juízes e o MP voltem para suas 'caixinhas'
O
candidato do PDT à Presidência, Ciro Gomes, afirmou
que somente uma vitória sua na eleição traria chances do ex-presidente
Luiz Inácio Lula da Silva deixar a prisão. Ciro
disse que iria “organizar a carga” e “restaurar a autoridade do poder
político”, fazendo com que juízes e o Ministério Público voltassem para
suas “caixinhas”. — O Lula tem alguma chance de sair da cadeia?
Nenhuma. Só tem chance de sair da cadeia se a gente assumir o poder e organizar
a carga. Botar juiz para voltar para a caixinha dele, botar o Ministério
Público para voltar para a caixinha dele e restaurar a autoridade do poder
político — afirmou.
A
declaração de Ciro foi dada à TV Difusora, do Maranhão, no dia 16, e foi publicada nesta
terça-feira pelo jornal “O Estado de São Paulo”. Lula está preso desde abril,
após ser condenado a 12 anos e um mês de prisão pelo Tribunal
Regional Federal da 4ª Região (TRF-4), por corrupção
passiva e lavagem de dinheiro, no caso do triplex do Guarujá.
Na
entrevista, o pedetista criticou a estratégia do PT de
manter a candidatura de Lula à Presidência, mesmo com a Lei da Ficha
Limpa proibindo candidaturas de pessoas condenadas em segunda instância, e
apresentar um substituto apenas no final da campanha. — O que eles estão
pensando, a burocracia? Nós vamos manter a candidatura do Lula, continuar
dizendo que ele é candidato, e quando for lá pelo meio de setembro, que a
Justiça disser que o Lula não é candidato, o Lula então diria assim: 'Então, se
não vão deixar eu ser, vai ser fulano’. O Brasil não
aguenta um presidente por procuração em uma altura dessas —
criticou.
Ciro
disse que avisou Lula sobre “problemas” em seu governo, mas afirmou que
o ex-presidente não quis ouvir: —Eu ajudei o Lula por 16 anos, sem
tirar nem um dia, no período dele e da Dilma. Já zangado, porque eu via as
coisas acontecendo, sabia que ia dar problemas. Cansei de avisar para ele, e
ele não quis ouvir, porque o poder, muito tempo, também tira a pessoa do normal
— reclamou.
Na semana
passada, Ciro já havia dito que o Brasil não terá “paz” enquanto o
petista estiver preso. Após não
conseguir o apoio dos partidos do Centrão, que devem fechar com Geraldo Alckmin
(PSDB), o pedetista tem adotado um discurso mais à
esquerda. Ele negocia uma aliança com PSB e do PCdoB, legendas também
cobiçadas pelo PT. Em junho, o GLOBO perguntou a Ciro e a outros quatro pré-candidatos
se, caso eleitos, eles assinariam um indulto a Lula. O
pedetista afirmou que “seria uma loucura” assumir
esse compromisso, porque isso significaria ignorar o fato de que a
condenação de Lula ainda pode ser revista em duas instâncias: o Superior
Tribunal de Justiça (STJ) e o Supremo Tribunal Federal (STF). — Assumir um
compromisso dessa natureza seria uma loucura. Eu estaria agindo em desfavor da
estratégia da defesa do ex-presidente Lula que ainda tem duas instâncias para
recorrer da condenação e em desfavor do próprio discurso do ex-presidente, que
tem se declarado reiteradamente como inocente — avaliou na época.
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