O
procurador Carlos Fernando dos Santos Lima, uma das estrelas da Força
Tarefa de Curitiba — uma espécie de Batman de Deltan Dallagnol, o
“Menino Prodígio” — concede uma entrevista à Folha desta segunda. Há três coisas a dizer sobre a intervenção da face mais irascível da Lava Jato:
1: ele continua a dizer coisas assombrosas, mas que parecem muito convincentes a quem não sabe do que ele está falando;
2: o homem resolveu posar de moderado e até admite erros na Lava Jato, mas não em Curitiba, é claro!:
3: a guerra com a Polícia Federal continua.
Vamos ver.
Para Carlos Fernando, o principal empecilho à Lava Jato está mesmo no Supremo. Afirma o bravo:
“Por que a Lava Jato diminuiu o ritmo?
Porque a todo momento, estamos sendo brecados ou pelo foro privilegiado
ou pela transferência de casos para a Justiça Eleitoral. A Lava Jato no
começo era uma Ferrari. Agora, somos um caminhão. (…). Se os ministros
do Supremo insistirem em tirar as coisas do Paraná ou mandar para a
Eleitoral, vai ficar difícil. A Justiça Eleitoral em segundo grau é
muito menos jurídica e muito mais influenciada por fatores políticos. O
Supremo hoje diz: esse caso não é seu. Mas, se alguém olhar a
Constituição, o Supremo não tem essa competência. Quem decide conflito
de competência entre Justiça Federal e Estadual é o STJ.”
Trata-se
de uma soma deliberada de bobagens. Os casos só saem do Paraná quando
não guardam relação com a investigação que lá teve início e que tem a
Petrobras como epicentro. Por isso a Lava Jato está na raiz de novas
operações. É o caso, por exemplo, de Sérgio Cabral. Quando os ministros
do Supremo “tiram as coisas do Paraná” é porque ao Paraná elas não
cabem, a menos que se afronte a lei. Da mesma sorte, um caso só vai para
a Justiça Eleitoral quando os colegas de Carlos Fernando, os
procuradores, não conseguem apontar a evidência de tipos penais. Vale
dizer: o trabalho insatisfatório, então, é feito pelo MPF. E, notem,
para Carlos Fernando, a Justiça Eleitoral em segundo grau não passa de
palco de tramoias políticas.
Noto que
Carlos Fernando, mesmo atacando o Judiciário, resolveu assumir um
figurino um pouco mais moderado. Admite erros na Lava Jato e cita dois
casos que são realmente escandalosos: as delações de Delcídio do Amaral e
de Sérgio Machado. Embora Rodrigo Janot lhes tenha concedido benefícios
assombrosos, suas respectivas acusações caíram no vazio. Nada do que
disseram fez a investigação avançar. Não obstante, até agora ao menos,
conservam os benefícios decorrentes das múltiplas acusações que fizeram.
Lembrem-se de que, à esteira do acordo de Machado Janot chegou a pedir a
prisão do ex-senador José Sarney e dos senadores Renan Calheiros
(PMDB-AL) e Romero Jucá (PMDB-RR). Teori Zavascki recusou. Carlos
Fernando cutuca Janot também no caso da delação de Joesley Batista, que
teria arranhado o instituto da delação premiada: “Nós, em Curitiba, não
damos imunidade, por princípio.”
E, como
era esperado, o procurador critica o fato de a PF poder celebrar acordos
de delação premiada. A guerra, pois, entre os dois entes continua. Sem
que se conheçam os termos da acusação de Antonio Palocci e as acusações
que faz, Carlos Fernando ataca o acordo celebrado pelo ex-ministro com a
PF: “Qual era a expectativa? De algo, como diz a mídia, do fim do
mundo. Está mais para o acordo do fim da picada.” Ou ainda: “A porta da
frente dos acordos sempre será o Ministério Público. A porta dos fundos é
da PF. As pessoas irão à PF se não tiverem acordo conosco.”
Pouco
perceberão o que há de assombroso nessa fala. Notem que Carlos Fernando
dá a entender que conhece o roteiro de Palocci e que considera a sua
delação falaciosa. Não é o que pensa a Polícia Federal. Dois entes do
Estado brigam para ver quem fica na vanguarda do denuncismo. E isso é
péssimo para o país e, como se vê, para o combate à corrupção.
Reinaldo Azevedo
http://www3.redetv.uol.com.br/blog/reinaldo/carlos-fernando-batman-de-dallagnol-o-menino-prodigio-diz-besteira-sobre-stf-e-investigacao-mas-tenta-posar-de-moderado-e-critica-janot/
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