Zélia Cardoso diz que Plano Collor não foi só confisco
O Globo OnlineA ex-ministra da Fazenda Zélia Cardoso de Mello, voltou a defender nesta terça-feira o Plano Collor, seu "filho mais polêmico", no seminário em comemoração aos 200 anos da pasta.
- Diferentemente da propaganda que o reduziu [Plano Collor] ao confisco, era um amplo conjunto de reformas aliadas a um programa de estabilização, que tinha objetivos conjunturais - disse Zélia, que já havia participado na segunda-feira da abertura do evento com outros ex-ministros da Fazenda.
Segundo ela, o plano teve sucessos e fracassos. Zélia também enfatizou que o plano reverteu a situação ruim das finanças públicas, permitiu a abertura da economia brasileira e a privatização deixou de ser um tabu.- Foi muito bem no sentido de evitar a hiperinflação, que se aproximava de 84% ao mês, no início de governo e se manteve entre 2% e 19% no período em que estive à frente do ministério. Mas não conseguimos debelar a inflação, como todos sabem - admitiu.
A ex-ministra disse, ainda, que o período iniciado em 1985 foi tão difícil e turbulento quanto 1890, com o início da República de Rui Barbosa. Mas, segundo ela, as reformas ocorridas a partir do Plano Cruzado, em 1986, "criaram as condições necessárias para o sucesso do [Plano] Real".
A despeito das críticas que sofreu durante o evento, que se tornou um palco para ex-ministros louvarem suas conquistas, Zélia manteve o bom humor e até brincou com um erro relativo à sua idade.
- Só tem um problema no livro dos ex-ministros. Ele me colocou um ano mais velha e, para uma mulher, isso é um problema - disse Zélia, que nasceu em 1953.
- É uma falha grave - respondeu o atual ministro Guido Mantega, que em seguida emendou mais uma forte crítica à colega, citando a primeira entrevista sobre o Plano Collor como um péssimo exemplo de comunicação à sociedade .O ministro afirmou que usou uma cópia da entrevista em suas aulas na Fundação Getulio Vargas para explicar como não se anunciam medidas econômicas.
- Estávamos três noites sem dormir naquele dia - replicou Zélia.
Ex-ministra elogia aumento dos jurosZélia Cardoso, por sua vez, foi só elogios à política econômica do atual governo. Segundo ela, as medidas de controle da inflação, principalmente o aumento dos juros básicos, são necessárias para evitar aumentos excessivos de preços que já ocorreram no Brasil.
- O governo está absolutamente correto ao preservar a conquista - disse.
Na opinião de Zélia, o governo tem conseguido equilibrar o controle da inflação com crescimento econômico.
- Estamos tendo crescimento, é um crescimento pequeno porém consistente, temos aumento de emprego e de renda real - disse.
De acordo com a ex-ministra, o Brasil está "em situação extremamente favorável"para superar a turbulência internacional devido ao nível de reservas internacionais brasileiras, acima de US$ 200 bilhões, e tem a inflação sob controle. Mas ela enfatizou que a crise internacional ainda está no "meio do processo de dificuldades" e que haverá um processo inevitável de depuração da bolha que se fez no mercado imobiliário norte-americano.
Zélia disse ainda que o governo Collor deixou como principal contribuição a abertura comercial, iniciada em 1990.
- Dizíamos sempre: queremos aumentar a importação e exportação. Queremos ter um aumento do saldo comercial e isso é o que nós temos hoje -afirmou.
FHC x Plano RealEm depoimento gravado, exibido no seminário, o ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso disse que o mérito do Plano Real foi ter sido democrático, com respeito à população e sem questionamentos jurídicos. FHC era o ministro da Fazenda a época do plano.
- Os planos anteriores eram tecnocráticos. Eram decididos nos gabinetes e ninguém sabia de nada e aparecia do nada no Diário Oficial. A população tomava um susto. E o maior susto foi o confisco das poupanças do tempo do presidente Collor. O sujeito tem a sensação de amanhecer mais pobre - disse Cardoso.
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